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Dentre uma infinidade de planetas de todas as galáxias do universo conhecido, apenas um deles possui uma cobertura viva que respira. Essa cobertura carrega um nome forte: terra.

Em sua origem, há 4,5 bilhões de anos, a Terra era uma esfera incandescente de rocha derretida que sofreu diversas mudanças geológicas. Vulcões perfuravam sua superfície, jorrando minerais do núcleo do planeta e expelindo vapor d’água, que se transformava em chuva.

Por muito tempo essa chuva transformou rochas em argila e formou os oceanos, onde a vida se iniciou. A vida microscópica verteu-se dos mares para a terra onde se misturou ao barro, criando a primeira terra viva. Incontáveis ciclos de nascimento e morte, fertilidade e esterilidade transformaram este solo na matriz da vida na Terra. 

Tradições judaicas, cristãs e muçulmanas narram a chegada dos humanos há cerca de 2 milhões de anos. Em nossas histórias mais antigas, celebrávamos a terra como a fonte do que somos e de onde viemos. Somos feitos dos mesmos elementos básicos de que a terra é feita. 

De lá para cá 

A humanidade vem cultivando orgânicos por cerca de cinco mil anos, mas aparentemente sem olhar para o solo como um organismo transbordante de vida.

Tendemos a não nos preocupar, pois o solo está em toda parte. Diamantes e ouro são tão importantes que os nomeamos metais preciosos, quando na verdade todos são formas de solo. A camada de minerais que está por cima, como se fosse a pele da Terra, é nosso bem mais precioso. 

Talvez não seja possível definir o que nos faz distanciar da natureza, mas de fato precisamos recuperar nossas relações com ela. Essas relações que funcionam de forma não cartesiana, não linear, mas que foram deturpadas quando passamos a olhar a terra como algo sujo, impróprio.

Nos esquecemos o quanto é bom andar com os pés na terra, pegá-la nas mãos, sentir seu cheiro. O que frequentemente chamamos de areia, poeira, ou até de sujeira, aquilo que tentamos limpar do nosso carro, das roupas das crianças, são na verdade o solo e os sedimentos vitais para manter as plantas, animais e nós mesmos vivos. 

Um punhado de solo orgânico contém mais informação organizada do que as superfícies de todos os outros planetas conhecidos. Essa porção pode ter até cinco bilhões de seres vivos, desde minhocas até bactérias, fungos e algas. É um universo num punhado de terra que provavelmente possui todos os reinos da vida. 

Conhecer e desvendar as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos é um assunto tão complexo que levou a edafologia, ciência que trata da influência dos solos em seres vivos, a especializações e estudos de seus elementos de forma separada. Por consequência, o entendimento do solo como recurso natural, único e indiviso foi prejudicado. 

A compreensão das múltiplas inter-relações entre os seres microscópicos e a maneira como um interfere no outro é um assunto complexo demais para ser reduzido a uma ou outra matéria didática. Da mesma forma, não podemos estudar a água com base nas propriedades dos elementos que a formam. 

O todo é muito mais do que a simples soma de suas partes, tendo características próprias que precisam ser entendidas. E nesse sentido a agroecologia é precursora, pois vê o solo como entidade viva, como um agroecossistema. Tudo é um. 

Revolução verde

Por muito tempo esquecemos do solo e da raiz, porque olhávamos somente a parte vistosa da planta. Na agricultura tradicional o solo é a fonte de toda a fertilidade, de riquezas inimagináveis. A terra está muito viva e tratar o solo como sagrado é o melhor que podemos fazer. 

Quando o modelo agrícola dominante no Brasil era pautado por técnicas europeias e americanas de cultivo, os pioneiros da agroecologia acreditavam nos princípios de vida do solo e criticavam o padrão tecnológico da Revolução Verde, que em menos de duas décadas de sua implementação no país, provocara efeitos devastadores.

Essa revolução verde foi proposta pela indústria e não pela agricultura. Os dados apresentados em estudos eram alarmantes, com elevados teores de resíduos de agrotóxicos, acentuada degradação do solo e uma ruína de recursos naturais, com a expansão agrícola de monocultura.

Com uma visão holística sobre a conservação do solo, destaca-se o trabalho da Dra. Ana Maria Primavesi, responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo em geral e especialmente no manejo ecológico do solo.

Pioneira na preservação do solo e recuperação de áreas degradadas, abordando o manejo do mesmo de maneira integrada com o meio ambiente. Suas pesquisas apontam para uma agricultura que privilegie a atividade biológica do solo com um alto teor de matéria orgânica, evitando o revolvimento do mesmo e substituindo o uso de insumos químicos pela aplicação de técnicas como a da adubação verde, controle biológico de pragas, entre outros. A compreensão do solo como um organismo vivo e com diversos níveis de interação com a planta.

Ana Primavesi pautou seu trabalho visando boas colheitas, sem desequilibrar as plantas ou destruir suas propriedades. Conseguiu obter melhores resultados práticos fundamentados nas relações planta-solo-microrganismos, provando haver uma conexão direta entre a vida no solo e a produção vegetal. 

O solo é a base de tudo. Primavesi dizia: 

“O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas bem nutridas”.

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